Marcos Strecker: Impeachment está a caminho

(Arquivo) O presidente Jair Bolsonaro (Crédito: BRAZILIAN PRESIDENCY/AFP)
Marcos Strecker, ISTOÉ - O desembarque de Sergio Moro do governo Bolsonaro sela o destino do presidente e alinha as forças necessárias para dar o início formal do processo de impeachment. Apenas no seu histórico discurso de despedida, Moro aponta vários crimes que vão pesar sobre o presidente: obstrução de Justiça, advocacia administrativa e falsidade ideológica. São acusações gravíssimas feitas por um juiz de enorme credibilidade, apesar dos detratores de Moro, incomodados com os interesses feridos na Lava Jato, da qual foi o principal símbolo.
O ex-diretor da Polícia Federal Maurício Valeixo, pivô da saída de Moro, estava justamente garantindo o inquérito da PF que indicaria o filho do presidente, Carlos Bolsonaro, como mentor das fake news que atacavam o STF desde o ano passado. Esse é um dos inquéritos que ameaçam o presidente.
Outro, iniciado na última semana por pedido do procurador-geral Augusto Aras, também vai investigar os atos pró-golpe do domingo, 19. Ambos podem apontar de forma cabal as digitais do clã Bolsonaro em um movimento de ataque às instituições e embasar seu pedido de impeachment.
A terceira ameaça para o presidente é um mandado de segurança que deu entrada no STF ns últimos dias. De autoria de um ex-assessor da ministra Rosa Weber e de um ex-conselheiro da OAB, pede o afastamento do presidente e que parte de suas funções sejam imediatamente transferidas para o vice. Está a cargo do ministro Celso de Mello, decano do STF. Com base nele, Mello oficiou esta semana Rodrigo Maia para que justifique por que não abriu o processo de impeachment, apesar das evidências de crimes do presidente, como sua ação contra a saúde pública no combate à pandemia, e sua recusa em divulgar o exame que pode revelar que contraiu a Covid-19.
A saída de Moro cria as condições no Congresso para o início do processo de impeachment e o afastamento de Bolsonaro. Pode se dar por um dos 24 pedidos já protocolados na Câmara, ou pela bem embasada peça dos advogados. De qualquer forma, é uma questão de tempo. As condições jurídicas e políticas para o afastamento do presidente estão dadas.
É preciso lembrar que a popularidade de Moro é maior do que a do presidente. Era um dos últimos fiadores públicos do presidente, que perdeu a confiança dos que ainda imaginavam que representaria o combate à corrupção. Entre os civis, sobra apenas Paulo Guedes, que já está sendo humilhado publicamente por Bolsonaro e que também pode sair a qualquer momento. Restam apenas os militares com assento no Palácio do Planalto.
Havia a expectativa de que tutelariam o presidente para garantir seu mandato com um mínimo de racionalidade até 2022. Agora, podem ser o esteio que vai garantir a posse do vice, em um governo de transição até as próximas eleições. Bolsonaro deveria renunciar. Se não fizer isso, deve ser afastado pelo Congresso ou pela Justiça.

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem