
Você pode não acreditar, mas eu acredito que nós, sociedade como um todo, fomos ludibriados pelo crime organizado. A tese é a seguinte:
“Nossos jovens, geralmente os pobres, por falta de oportunidade ou políticas públicas de inclusão social, acabam se envolvendo com drogas em determinado momento da vida.
Desde 2006, a legislação brasileira prevê que o usuário de drogas não deve ser punido com a cadeia — apenas com sanções alternativas, como a prestação de serviços à comunidade ou a participação em cursos educativos. Esse seria o caminho correto para o combate às drogas, mas, na prática, por falta de critérios objetivos na distinção entre usuário e traficante, que fica a cargo de policiais, promotores e juízes, grande parcela da população carcerária brasileira é enquadrada como traficante.
A prisão desses pseudo traficantes ou microtraficantes (formada por consumidores de drogas) geralmente pobres, são a mola propulsora do crime organizado.
Na prisão, nosso jovem é aliciado ou vilipendiado até ceder às chamadas facções. Uma vez dentro não há mais porta saída. Está formando o soldado do crime, que vai combater ao lado das organizações criminosas até a morte.”
O mais simples é pensar que isso tudo é balela, que o preso é problema do Estado e que a cadeia é que é lugar de traficante.
Vamos acordar. Estamos fornecendo-lhes a nossa melhor matéria prima, tirando os jovens das escolas e colocando-os nas cadeias. Apesar dos bilhões gastos no combate ao tráfico de drogas, o consumo só aumentou.
A solução já começou a ser adotada em 30 dos 50 estados americanos: o porte de drogas para uso recreativo ou medicinal foi descriminalizado. Portugal mudou sua política em 2001 e legalizou todas as drogas para consumo próprio. Em 2018, o Canadá seguiu o mesmo caminho. O Uruguai adotou a política mais radical do mundo. Legalizou não só o consumo, mas também o cultivo caseiro da maconha, e permitiu o comércio em redes de farmácias. De lá para cá, todos tiveram redução do número de mortes por uso de drogas.
No Brasil, um dos defensores dessa tese é o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e eu tenho me filiado a essa corrente da legalização do uso das drogas para consumo.
A ideia é parecida como modelo uruguaio. Vendendo drogas nas farmácias podemos quebrar financeiramente o tráfico de drogas e, com o perdão do trocadilho, de quebra, distinguir usuário de traficante, permitindo dar ênfase ao tratamento de saúde dos dependentes, ao invés de jogá-los em masmorras medievais e entregá-los para o crime organizado.
Não há certeza de que o modelo seja eficiente, mas uma coisa é certa, o modelo atual é caro e não funciona.
Excelente texto, nobre colega e amigo Rogério.
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