Antônio Melo: Hora de ser sério


Antônio Melo, jornalista - Sem dúvida pode ter sido a melhor notícia do governo de Jair Bolsonaro a assinatura do acordo entre o Mercosul e a União Europeia, já que a reforma da previdência é de Rodrigo Maia. Sobram muitos questionamentos, é verdade, como em todo acordo, ainda mais dessa magnitude.
Para chegar a isso o nosso presidente teve de se afastar dos zeros familiares, do astrólogo Olavo de Carvalho e do tuite por algumas horas. E, pela primeira vez, ser menos Bolsonaro e mais o presidente de um país e de um povo que a seis meses aguarda que ele comece a governar.
Verdade seja dita -talvez até pelo longo voo- o homem desembarcou no Japão muito menos presidente do que quando aqui. Barba por fazer, ar estremunhado, anunciou logo que não tinha ido ali ouvir carão de Ângela Merckel, muito menos de Emmanuel Macron. A primeira teria dito no parlamento alemão que iria ter uma conversa seria com o colega brasileiro, ao ser cobrada sobre o Fundo Amazônia que, junto com a Noruega já destinou mais de 3 bilhões de reais para ações de sustentabilidade na região.
Por seu lado, Macron condicionara a adesão da França ao protocolo à permanência do Brasil no Acordo de Paris que Bolsonaro, desde antes da posse, anunciou que o nosso país iria abandonar. Os dois presidentes tinham uma agenda anunciada. Diante da reação meio destrambelhada do brasileiro ao chegar, o francês disse que estava sem tempo para o encontro bilateral. O nosso Messias sentiu o golpe. Entraram em campo os diplomatas e arranjaram um tempinho de Macron, somente depois do Messias dizer que tinha pensado melhor e que o país continuaria signatário do acordo e comprometido com suas metas.
Merckel, bem ao seu estilo, engoliu calada a resposta pouco diplomática que recebeu em Tóquio. Mas, ao retornar ao seu país, coincidência ou não, determinou a retenção de parcela de 35 milhões de euros destinados ao Fundo Amazônia. Anteriormente os alemães já tinham repassado mais 193 milhões de reais. Pior que isso. A Noruega, sócia do Fundo e que já colocou 3,2 bilhões de reais nele, posicionou-se ao lado dos alemães e ameaça suspender o programa.
Por seu turno, Xi Jin Ping, presidente da China, nosso maior parceiro comercial que andou apanhando muito do novo governo, também tinha uma agenda bilateral com o Messias. Cancelou. Motivo? Estava se atrasado, consequência de outros compromissos, disse o porta-voz da delegação chinesa. Será?
Enquanto isso, Rodrigo Maia vai nadando de braçada nesse oceano de... bem, não vou nem dizer.

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