Antônio Melo: O país das coincidências

Antônio Melo, jornalista - O Brasil que quer entrar no clube dos países mais ricos do mundo, acaba de ficar, neste último trimestre, 0,2% mais pobre. Simples coincidência. Como outra coisa não seria, além de coincidência, o fato do COAF -que flagrou as traquinagens realizadas por um assessor do então deputado Flávio Bolsonaro- sair debaixo das asas do xerife Sérgio Moro e se aninhar nos cofres de Paulo Guedes, o ministro da economia, com as bênçãos do presidente, o desconforto do ministro da justiça e a irritação do líder do PSL, partido de Jair Bolsonaro, o novato major Olímpio. Não se espante, é só coincidência.
Também não passa de mera coincidência o fato de nesse período em que foram autorizadas as quebras dos sigilos fiscal e bancário do deputado-travesso-zero-não-sei-quanto, o presidente anunciar de público que estava pronto a cumprir o “compromisso” assumido com Moro de indica-lo para o STF. Só que Moro, na primeira oportunidade, desmentiu. Por mais estranho que possa parecer o aceno do presidente querendo o xerife longe, não tem nada a ver com o atual momento em que o seu filho pula feito pipoca na frigideira da justiça. Tenha certeza, é tudo coincidência. Mera coincidência.
Como outra coisa não poderia ser - além de intriga da oposição e maldade dessa imprensa comunista- o fato de em momentos assim o presidente lançar ideias polêmicas. O absurdo decreto das armas que mais parece redigido por um pré-vestibulando de direito do que por profissionais e doutores no assunto. As inconsistências, as inconstitucionalidades e até idiotices ali contidas podem parecer burrice, mas saíram do marketing do absurdo que cresce e floresce no Planalto. A cada encrenca, joga-se uma polêmica para o povo discutir, arengar, esquecer o principal: os assassinos de Marielle, o inquérito do Zero Flávio, o cheque de 12 mil para a primeira dama, o silêncio e omissão do governo sobre o desastre de Brumadinho, os mais de 13 milhões de desempregados, o fiasco da reforma trabalhista, quem pagou em espécie a cirurgia e internação no hospital mais caro do Brasil do assessor pilantra do deputado Zero-Todo-Encrencado. Mas não se espante. São apenas coincidências, nada demais.
Como coincidência é -a mais pura coincidência- que a polícia do Distrito Federal tenha prendido o sargento João Baptista Firmino Ferreira por fazer parte de uma milícia suspeita de grilagem de terras, extorsão e diversos homicídios. Ferreira teve o sigilo bancário quebrado e a conta dele bastante robusta, segundo a investigação, comprova o envolvimento do policial com os milicianos (são todos policiais militares) que formam o bando de delinquentes. Mera coincidência.
Também não passa de coincidência que João Baptista seja irmão de dona Maria das Graças, que outra não é senão a mãe da primeira dama do Brasil, a dona Michelle, madrasta de Flávio, o Zero-das-Encrencas, agraciada com um cheque-fantasma de 12 mil reais do assessor do enteado. O João Baptista, seria assim, tio da dona Michelle.
Entendeu? Coincidência, eu também não.

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