Antônio Melo: É Melhor “jair” se acostumando

Antônio Melo
Jornalista

A impetuosidade do presidente-eleito continua a surpreender. Se fosse no bom sentido, estaria bem. O problema é que algumas atitudes de Sua Excelência beiram as raias do absurdo. A mais recente, essa encrenca que arranjou com Cuba por conta do programa Mais Médicos é uma delas.

Tudo bem, não vamos discutir as questões ideológicas do problema. É preferível analisa-lo à luz dos seus resultados.

O programa existe desde 2013 em 2800 municípios beneficiando uma população de mais de 63 milhões de pessoas que antes não contavam com esse serviço de saúde. No total são 18.240 postos, sendo 8332 deles ocupados por médicos cubanos. Em 1600 municípios -os menores, mais carentes, de menor ÍDH (Índice de Desenvolvimento Humano)- o atendimento é feito exclusivamente por profissionais de Cuba porque nenhum doutor brasileiro topou a tarefa assumir a empreitada sob condições tão precárias. Aliás, nem nem quiseram preencher outras duas mil vagas ainda disponíveis em municípios semelhantes.

Jair Bolsonaro se justifica. Diz que 75 por cento do salario dos médicos destina-se a financiar a ditadura cubana. Parênteses: lá ele acha que existe uma, aqui diz que nunca houve. Fecha parêntese. Reforça seu argumento dizendo que, além disso, os cubanos estão impedidos de trazerem suas famílias.

Será que o nosso eleito tomaria atitude semelhante em relação aos Estados Unidos se Donald Trump mandasse novamente prender filhos menores –e ponha menores nisso! Crianças, até- de imigrantes, inclusive brasileiros, separando-os dos pais, como fez este ano?


Muito bem. Cuba já anunciou que está chamando o seu pessoal de volta. Com certeza Donald Trump deve estar satisfeito com Bolsonaro. Os carentes é que sentirão o baque desse desatino na própria pele. Os prefeitos dos municípios que eram beneficiados pelo programa já preveem um “apagão” médico. Piora grande nos indicadores de saúde.

Seguindo a linha de enquadramento com o presidente americano, Bolsonaro anunciou seu futuro ministro das Relações Exteriores. Trata-se de Ernesto Araújo, 51 anos, diplomata de carreira que chegou ao posto de embaixador somente agora em junho e dirige o Departamento de Estados Unidos, Canadá e Assuntos Interamericanos no Itamaraty, defende o “nacionalismo ocidental”, a chamada “doutrina Trump”. Dentre os objetivos dessa nova política explicitados de forma entusiástica pelo futuro embaixador está o de “erguer barricadas contra a China maoísta que dominará o mundo”, conforme escreveu o ungido em seu blog, elogiando o presidente dos gringos.

Pode parecer piada, mas não é mesmo. China maoísta, no máximo, pode ser usado como piada. Nem os chineses acreditam nisso. Depois, parece que não é tarefa de um diplomata erguer barricadas, mas sim trabalhar para remove-las. Esquece-se o senhor Araújo, entusiasta e apologista do presidente americano, que os chineses são o nosso maior e mais importante parceiro comercial e não convém ficar dando caneladas neles. Basta olhar o mapa do mundo para entender que a China não é Cuba. Já os Estados Unidos disputam com Argentina a condição de segundo em importância para o nosso comércio exterior. Aliás, a mesma Argentina que foi ultrapassada pelo Chile, nas preferencias pouco pragmáticas do novo mandatário do País.

Enquanto isso, o ministro da Defesa, que seria da Marinha, não será mais. Já tem um general no cargo. E dizem que os marinheiros não estão nada satisfeitos. Comenta-se também em Brasília que a extinção do Ministério do Trabalho resultou em mais um recuo do presidente que já nos brindara com a mesma atitude em relação ao Meio Ambiente. Também é bom esquecer aquela afirmação de que o governo terá só 15 ministérios. Seriam 18, agora, incluindo dois novos que o presidente já anunciou que vai criar.

Resta saber se o ministro Moro vai ser mesmo tão duro quanto foi o juiz Moro com a esquerda. Parece que não vai lhe faltar matéria prima para isso. Depois do futuro ministro da economia, Paulo Guedes, sob investigação da Polícia Federal, agora flagraram uma traquinagem do futuro Chefe do Gabinete Civil, Onyx Lorenzoni, que teria pegado um por fora do cofrinho da JBS. Vamos aguardar.

Está difícil de entender. Mas, como dizem os bolsonaristas, é melhor “jair” se acostumando.

1 Comentários

  1. Meu caro amigo colunista... Nunca li tanta idiotice em minha vida! Antes de mais nada vá procurar ler e se informar sobre o regime do governo cubano. Já que o senhor se diz tão entendido assim do caso a ponto de escrever sobre ele...Pq não argumentou aí o fato do governo cubano aprisionar os familiares dos médicos que vieram para o programa aqui...veja ainda se é justa a obrigatoriedade desses profissionais ficarem com apenas 30% do salário pago a eles....Ah!!! São tantas questões a se analisar que o melhor seria o estimado colega colunista se informar, antes de sair por aí falando um monte de idiotice como essas daí que o senhor escreveu.

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