Antônio Melo: O Brasil precisa de um Hobin Hood

Resultado de imagem para antonio melo jornalistaAntônio Melo
Jornalista

Somente dois dos quase 50 países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Brasil e Estônia, não cobram imposto de renda sobre lucros e dividendos distribuídos entre acionistas de empresas. Parece uma picuinha com esses pobres empresários, tão assoberbados, perseguidos por uma máquina estatal corrupta e faminta por impostos que, na sua burocracia destrói a vontade dos investidores empreender no país.


Parece, mas não é assim.


Se o governo fizesse uma reforma tributária pensando não apenas nas queixas das outrora chamadas "classes produtoras" e pousasse olhos e destampasse ouvidos aos reclamos dos consumidores, descobriria novos caminhos para encher os mealheiros do ministério da fazenda. Talvez, nem precisasse mais assaltar as cuias de queijo do reino dos achacados contribuintes com reformas imprevidentes, aumentos estapafúrdios dos combustíveis, blacks fridays de deputados na Câmara.


Vamos aos números que é melhor.


Só cobrando imposto de renda sobre lucros e dividendos distribuídos a acionistas de empresas, o cofrinho do Meireles ia engordar 60 bilhões de reais e muitos outros milhões mais. Com esse dinheirinho dos meninos ricos daria para ter bancado todo o orçamento do ministério da saúde, R$ 43,4 bilhões, em 2016. Uma baba, né não?


Ou, se você quisesse, pagar todo o bolsa família –R$ 30 bilhões, mais os R$ 25 bilhões da educação básica, do Oiapoque ao Chuí, e ainda sobraria um troco de 5 bilhões, imagina que maravilha.


Esses dados não fui eu que inventei, não. Eles são de um relatório da ONG Oxfam Brasil, que tem como presidente do seu conselho deliberativo o empresário Oded Grajew, presidente da Grow, da Fundação Abrinq, do Instituo Ethos de empresas com responsabilidade social e é também fundador do Fórum Social Mundial.


Mas, será que querem cobrar imposto daquele pessoal? Querem nada...
Querem é aprovar um Refis diminuindo de forma substancial o que boa parte deles devem ao governo, não sei nem como, através de suas empresas. Já perdoaram dívidas dos maiores bancos brasileiros, como o Itaú, junto à Receita Federal, coisa de bilhão de reais. E olhe que os impostos que incidem sobre o que é vendido, até mesmo as obrigações sociais e os salários, fazem parte do preço final de qualquer bem ou serviço. Portanto, somos nós quem pagamos, não eles, os empresários.


Não é atoa que este mesmo estudo constatou que os seis brasileiros mais ricos do Brasil, sozinhos, têm uma fortuna maior que a soma dos 100 milhões de brasileiros cuja sorte não foi bafejada pelas isenções, proximidade com os poderes e a insensibilidade social.


No relatório "A distância que nos une – um retrato das desigualdades brasileiras", a ONG, numa crítica ao sistema tributário nacional, amplamente favorável aos mais ricos, defende a criação do IGF, ou imposto sobre grandes fortunas. Ele mostra que no Brasil a taxação dos ricos é apenas simbólica. Enquanto no Reino Unido, a alíquota cobrada sobre heranças, por exemplo, é de 40%, em São Paulo é de meros 4%.


"No Brasil, qualquer um que tenha um carro vai ter que pagar IPVA. Mas quem tem um helicóptero ou um iate não tem qualquer tipo de imposto semelhante".

Você conhece algum pobre, ou remediado, que tenha um helicóptero? A pergunta é minha, em adendo desnecessário à frase de Oded Grajew que ilustra bem a injustiça social em que vivemos. O Brasil, sem dúvida, grita por um Hobin Hood que dentro de uma reforma tributária venha tirar dos ricos para garantir o que, por direito, também é dos pobres. E urgentemente.


Não consigo mais dormir direito desde que soube que em meu país, seis pessoas, apenas seis, ganham mais do que outros 100 milhões de irmãos nossos. 13 milhões deles sem empregos. Não sei quantos milhões, sem moradia. Uma infinidade, sem vagas nos hospitais. Dezenas de milhares de servidores com salários atrasados. Milhares de policiais sem meios para combater a violência.


Seis. Só seis. Se gastassem um milhão por dia, todos os dias, seriam precisos 36 anos para torrar toda a fortuna. Seis. Apenas seis.
E você? Consegue dormir?

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem