
COSTA FILHO, João Batista da que também representa o heterônimo Edgar Moreno.
Para início de conversa, meu leitor, isto não me parece uma fórmula infalível em que devas confiar para fazeres tua crônica. É possível mesmo que isto não tenha para ti nenhuma validade. Acredita-me, se quiseres. Digo-te, porém, a crônica é bicho teimoso! A princípio é uma tímida e ingênua criança, de fala baixa com ideias indecisas e esfareladas, mas depois se torna uma senhora altiva, imperiosa e cheia de vontades. O cronista, em sua boa obra de criador, aos poucos vai sendo logrado pela sua criatura. O escritor pensa uma coisa; ela vai tomando atalhos, criando caminhos e se revelando uma bela rapariga. A ideia inicial é do cronista, mas das primeiras frases em diante, quando ela começa a crescer, a ganhar peso textual, a definir o corpus, como diria Welyson Lima, meu colega das Letras, e, sobretudo, a pensar por si própria, ela toma o gosto pela liberdade e a imaginação criadora, passando a traçar seu próprio destino e temática, estilo e linguagem, enredo e efeitos, seus próprios acertos e deslizes. Sim, pois a crônica também vacila, e às vezes, feio. Por vezes fica aquele quê de incompletude, de excesso ou desfalque na correção. Nesse caso não é difícil que ela se esquive desse antimérito e dê-lo ao seu criador.
É bem aí que me ocorre certa queixa da crônica. Na sua altivez, vezes há que se mostra egoísta e ingrata, quando não rebelde, mas dada à sua singeleza, senso de humor, crítica, verossimilhança e graça, o cronista termina por compreendê-la, desculpando-a. Na verdade eles vivem a brigar e brincar nesse ofício de ouro. Mas se bem observares, leitor, há nessa dicotomia cronista x crônica uma dissimulada “queda de braço”, que os faz cúmplices: o escritor pensa, a crônica age; ele é o criador, ela a criatura; o cronista inicia, a crônica finaliza; ele escreve, desmancha, refaz, ela dá a martelada final, mas ambos se complementam em prol do leitor, o maior beneficiado dessa história.
Todavia esse mesmo leitor, deve estar ainda a se perguntar: Onde encontrar a crônica? Onde sua fonte de inspiração? Para que serve? Como, de fato, fazer uma boa crônica? Não o é incomum que, ao se apreciá-la, degustar seu estilo primoroso, rir e refleti-la, as pessoas tenham suas curiosidades. Por isso, convêm cá alguns conceitos. A crônica pode ser encontrada em qualquer rua, em qualquer beco, no mais pobre dos subúrbios, no trajeto de uma formiga... Já tive de tirar crônica de calçada, de banco de ônibus, de um copo de “refri” à mesa. Ela pode ser encontrada no mais inusitado e inútil lugar à espera de quem a escreva. Já a inspiração mora na sensibilidade do escritor em captar a singeleza de um gesto, a poesia nos loucos, a ironia num buraco de rua, a beleza em Dona Feia, a verossimilhança social, o humor na aflição, a graça no charme da formiguinha com a folha.
Cá com minhas crônicas, descobri que elas se geram mais facilmente quando escritas a punho. Certamente que sem os artifícios dos controls computadôricos, elas ficam mais autênticas, embora que, no fim tenhamos que digitá-la e, eis, mais uma vez a dita cuja, ainda insatisfeita, a reclamar algumas mudançazinhas, como me ocorreu com esta.
Aproveito, leitor, para alertar-te que, ao te propores escrever uma crônica, conta, sobretudo, contigo mesmo, pois nesta, bem que tentei ajuda de colegas via celular. Uma palavra que fosse. Minha estratégia não funcionou, mas quem sabe tenhas melhor sorte.
“Para que serve?” – lembrar-me-ias tu. Destaco a realização de fazê-la e o desfrute de degustá-la, mas é certo que ela também é jornal, é registro histórico, é alimento...
“Como fazê-la?” Convém-me primeiramente tentar concluí-la e de já esclarecer que a afirmativa do título Como fazer uma crônica, é diferente da interrogativa: “Como fazer uma crônica?” Pois devo confessar-te: fico com a segunda opção. Descobre tu mesmo.