Edgar Moreno: Astrogildo, Franscismundo e Jegnaldo


Edgar Moreno
COSTA FILHO, João Batista da que também representa o heterônimo Edgar Moreno.

A lua vai alta em clara madrugada. Os olhos da cidade já se fecharam em quase todos os bares. Em um canto qualquer da cidade a conversa e a pinga ainda rolam soltas. E parece vir das bandas do Senadinho. Ou seria da Vila? Três amigos se confabulam galhofeiros:
− Eu me chamo assim porque minha mãe dizia que eu nasci de bumbum pra lua e, como queria meu avô Gildo, ia ser um astro de Hollywood, dizia Astrogildo.
− Pois eu me chamo Francismundo pelos meus pais Francisca e Raimundo, que de tão unidos juntaram os nomes deles e formaram o meu.
− E tu, Jegnaldo, que diacho de nome esquisito é esse?
O homem acanhou-se e, por fim desabafou sem jeito:
− Meus pais eu num conheci não, mas o véio devia de ser um burro e a véia uma égua, e das besta, pois botar um nome fuleiro desses só por causa de que nasci assim de cabelo ruivo no corpo e teso como jumento...
Um dos amigos o caçoa:
− Então os velhos não eram nada de burros, mas sim muito sabidos, te pondo um nome original.
Jegnaldo o rebate:
− É, mas tu num queria andar cum cu na cara, queria?
− É amigo... Taí uma coisa que a gente não pode escolher, é o nome!
− Sabe que nunca tinha pensado nisso! A gente pode escolher até a cova pra ser enterrado, agora o nome, só os outros...
Astrogildo brinca:
− O pior é que depois de registrar, tá registrado. Tudo que for assinar é com aquele nome. Não é assim que tu tem te assinado por aí?
− Jegnaldo concorda e, inconformado com o que ouve lamenta:
− Ah, desgraceira, por que meus pais foram aceitar a mardita ideia de meu padim Asnorildo? Eles deviam ter botado pelo menos Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon.
Astrogildo brada surpreso:
− Ei, rapaz, esse aí é o nome de Dom Pedro I. Tu não é nada de besta, né, Jeg?! Quer ter nome de Imperador, hein?
− Rapaz – interrompe Francismundo – falando em nome, eu conheço uma família que todo mundo se chama Antônio ou Antônia.
− Por que, homem?
− Ora, o povo não diz que quando a criança nasce enrolada tem que botar o nome de Antônio? Sei que isso é só crença, mas não é só por isso, os vizinhos do home lá falam que é também um caso de prevenção.
− Como assim?
− É que o velho pai deles é tão enrolado nos negócios que a mãe já precaveu os bichinhos que vão nascendo pra não ficarem enrolados também.
Jegnaldo atalha a conversa:
− Já eu, quando tava em Sum Paulo, conheci uma colônia daquela gente dos zóinho apertado e de nome estranho. Óia só: é Sujiro Kifuja, Sokaga Nakama, Ken Fugiro Nakombi, Mishutaru Nossaku, Tomy Xixi Numuro. Pelo menos é o que o pessoal dizia lá no serviço. Inclusivemente tinha uma famia, o pai era o seu Hiroshi Takuku Nakara, a mulher dele Sakura Takuku Nakara, a filha Tomoyo Takuku Nakara e até o meninozinho, o Kakashi, também tavaca...
− Ô Jegnaldo, deixa de ser jeca, homem, isso é nome de japonês!
Jegnaldo suspira:
− Mas rapaz, voltando pro meu caso, eu tô muito triste.
− Por que Jegnaldo?
− Por que minha muier tá prenha de novo.
− Mas, isso deve ser motivo é de alegria, homem, pois é mais um bacabalensezinho pra dividir o leite.
− Num é por isso não, Astrogildo, é que a muier já sugeriu o nome da cria, sô.
− E como vai ser? – perguntam os amigos apreensivos. E Jegnaldo, preocupado, a passar a mão na cabeça:
− Pois num é que a muier cismou de querer me homenagear botando meu nome na criança...
− Jegnaldo Júnior! Jegnalda! Vem aqui, peste! – brincou Astrogildo com o amigo tombando de rir.

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