A cada noite de luar
Hei de espargi o fel da minha mágoa
E me acalantar nos braços da saudade
Sei que hei de ignorar cada olhar
Fugir de cada encontro
E fingir que nada existe
Tapar a última fresta
E fazer morrer a réstia da esperança
Hei de acordar do sono
E torná-lo pesadelo
Porque esqueci que o sonho se sonha
Não se toca nem se vive
Sei que hei de pagar com meu suor da madrugada a heresia
E viver a letargia do querer
Hei de cegar meus olhos para não ver
Tornar surdos os meus ouvidos para não ouvir
Calar a minha voz para não falar
Cortar fora as minhas mãos para não tocar
E tornar insensível o meu olfato
Para não sentir teu cheiro
Sei que hei de errar pelas noites
Beber qual um náufrago no deserto
Sentir o frio das calçadas
Mas, sei que hei de ruminar a minha dor
Para que ninguém perceba.
Abel Carvalho
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