Lourival Cunha: A cada 2 minutos um brasileiro é internado por sinistros de trânsito

Artigo do Dr. Alysson Coimbra mostra que o Brasil enfrenta uma crise de saúde pública.
Conforme o especialista, falta política pública e coragem para rever o processo de formação de motociclistas.
Lourival Cunha, engenheiro e advogado - O Brasil enfrenta uma crise de saúde pública que se desenrola diariamente nas ruas e avenidas do país. A cada dois minutos, um brasileiro é internado devido a sinistros de trânsito, criando o que especialistas já chamam de “exército de mutilados” – vítimas de um sistema que falha em prevenir, fiscalizar e educar.

Em Minas Gerais, o cenário é alarmante: somente em 2024, os custos com internações por acidentes de trânsito ultrapassaram R$ 46 milhões. Em 2025, apenas nos primeiros meses, esse valor já ultrapassou a cifra de R$ 7 milhões – uma sangria financeira que reflete um problema muito mais profundo.

Os dados da ABRAMET (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego) revelam um padrão preocupante: 78% das vítimas são homens e 60% são ocupantes de motocicletas. A motocicleta, veículo de baixo custo de aquisição e manutenção, tornou-se não apenas meio de transporte, mas também ferramenta de trabalho para milhares de brasileiros que atuam em serviços de entrega e transporte por aplicativo.

O problema é que o processo de habilitação ainda se dá em circuitos fechados, distantes da realidade urbana, sem preparar o condutor para os desafios que enfrentará nas ruas e avenidas.

“O resultado é um número alarmante de acidentes envolvendo motociclistas recém-habilitados, muitos deles com saúde mental fragilizada e sem o preparo técnico adequado”.

Quando uma vítima de sinistro de trânsito chega ao hospital, inicia-se uma jornada complexa e dolorosa. O atendimento inicial é apenas o começo de um processo que pode se estender por meses ou anos. Lesões graves, muitas vezes potencialmente fatais, não podem ser resolvidas em um único procedimento. Por isso, os atendimentos cirúrgicos são realizados em múltiplos tempos. Inicialmente, busca-se salvar a vida do paciente, estabilizando fraturas e controlando hemorragias.

Após a fase crítica, que geralmente inclui dias em UTI, seguem-se novas cirurgias, mais tempo de internação e, finalmente, a alta hospitalar – que está longe de representar o fim do problema. Começa então um longo processo de reabilitação, que pode incluir fisioterapia, terapia ocupacional e, em casos de amputação, adaptação a próteses.

O impacto econômico dos sinistros de trânsito
Um dos aspectos mais perversos dessa realidade é o ingresso precoce de jovens no sistema previdenciário. Pessoas que deveriam estar no auge da sua capacidade produtiva passam a depender de auxílio-doença, auxílio-acidente ou aposentadoria por invalidez. Nesse cenário, o Estado, já fragilizado economicamente, passa a sustentar cidadãos que foram feridos por um sistema que falhou antes: na prevenção, na fiscalização e na formação de condutores.

Esse ciclo – acidente, internação prolongada, incapacidade e dependência previdenciária – representa um duplo prejuízo para o país: além dos custos diretos com saúde, há a perda de força de trabalho e potencial produtivo. Enquanto recursos são drenados para atender vítimas de acidentes de trânsito, outras emergências ficam comprometidas. Pacientes com infartos, AVCs e outras condições agudas enfrentam um sistema já no limite de sua capacidade.

As internações prolongadas, o uso de leitos de UTI e os procedimentos cirúrgicos complexos exigidos pelas vítimas de trânsito consomem recursos humanos e financeiros que poderiam ser direcionados para outras áreas da saúde pública.

A urgência de políticas públicas efetivas
Mas, o que falta para resolver esse problema? Falta política pública e coragem para rever o processo de formação de motociclistas. Falta fiscalização efetiva. E, também, falta investimento real em prevenção.

É necessário reconhecer que o trânsito não é apenas um problema urbano ou de mobilidade, mas um reflexo da saúde emocional, comportamental e institucional do país. A naturalização dos acidentes e suas consequências representa uma falha coletiva que precisa ser urgentemente corrigida.

Enquanto autoridades e sociedade não tratarem o trânsito como a questão de saúde pública que ele realmente é, continuaremos a pagar um preço alto demais – em vidas, em sofrimento humano e em recursos financeiros.

Estamos pagando caro por um descaso histórico. E continuaremos perdendo até que o trânsito seja tratado com a seriedade que merece. Ou seja, como uma questão de saúde pública, de justiça social assim como de responsabilidade política.

“O tempo de agir é agora. Porque a cada dois minutos, mais um brasileiro entra para as estatísticas. E por trás de cada número, há uma vida transformada pela dor, pela incapacidade e pelo abandono de um sistema que falhou em protegê-la”. Dr. Alysson Coimbra é médico do Tráfego e diretor da ABRAMET. Fonte: https://www.portaldotransito.com.br

CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO (Lei nº 9.503/97)
Art. 41. O condutor de veículo só poderá fazer uso de buzina, desde que em toque breve, nas seguintes situações:
I - para fazer as advertências necessárias a fim de evitar sinistros;
II - fora das áreas urbanas, quando for conveniente advertir a um condutor que se tem o propósito de ultrapassá-lo.

A VIOLÊNCIA DO TRÂNSITO TEM JEITO, é só as autoridades implementarem os remédios eficazes: Educação para o Trânsito, Fiscalização ampla e rigorosa e uma boa Infraestrutura das vias.
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