Antônio Melo: O tapete e o suco de laranjas


Antônio Melo, Jornalista - Levanta uma ponta do tapete e, em Pernambuco, aparece uma “candidata” do PSL que recebeu 400 mil reais por 200 e poucos votos. Em Minas nem precisou levantar, uma outra, do mesmo partido, fazia dobradinha com o atual ministro do Turismo e, segundo ela mesma denuncia lá de Portugal, era instada a depositar parte do dinheiro no esquema de Sua Excelência, o então deputado Marcelo Álvaro Antônio.
Levanta-se o tapete de volta a Pernambuco e descobre-se que em cima da eleição duas candidatas receberam 268 mil de verba pública do partido para fazer 10 milhões de santinhos. Santinhos em cima da eleição? Para que tantos? Onde foram impressos?
Já no Rio Grande do Sul, sob o mesmo e imenso tapete Carmen Flores, candidata do PSL ao Senado, destinou a verba recebida do partido para uma loja de sua propriedade e às contas de uma filha e de uma neta. Carmen, presidiu a legenda da moralidade na terra de Getúlio Vargas até 31 de dezembro. Nas eleições, ficou em quarto lugar.
O que se sabe é que esse tapete de proporções gigantescas ainda tem muito a revelar. Ou muito suco de laranja a escorrer.
Enquanto as novas descobertas não são desentocadas, o presidente Bolsonaro, aquartelado no Planalto, passou a semana como se estivesse à testa de um governo velho, sem forças ou apoios, carcomido e desgastado. Colecionou derrotas nos três poderes, mais o familiar, o quarto. Na Justiça, vai ter de pagar uma indenização à deputada Maria do Rosário e não receberá a indenização que se achava merecedor por supostas ofensas proferidas pelo deputado Jean Willy. Na Câmara, os deputados rejeitaram de forma acachapante uma medida do governo –bem verdade encaminhada pelo interino Mourão- sobre sigilo de documentos, num claro recado ao Executivo: ou melhora sua interlocução, ou é couro. Melhorar significa retomar a velha política.
Vendo as chamas lamber suas bases e já transformando em cinzas algumas convicções mais tenras, o presidente se apressou. Mandou às favas o seu discurso de nova política e foi à oligarquia dos Coelhos de Petrolina (ex-governador pernambucano Nilo Coelho) pescar lá pelas águas turvas da Operação Lavajato, o ex-ministro de Dilma, Fernando Bezerra Coelho, denunciado pela Procuradoria Geral da República pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. No processo é acusado de receber 41 milhões de reais. Mas não importa. Que se vão os anéis (as convicções). Mas fiquem os dedos mesmo lambuzados.
A última derrota foi junto ao quarto poder, que já não é mais a imprensa, sim a Família Pitbull. Nenhuma ironia, é assim que o presidente se refere aos próprios filhos. Se quiserem, a Família Zero. O 0-1, 0-2, 0-3...
O Zero-Três -eu acho mas sempre me confundo –aquele do telefone inefável, chamou um ministro de mentiroso. Acreditei porque o pai -deve ser o Zero-Zero- com a autoridade de Presidente da República, cravou: Bebiano tá mentindo mesmo.
Aí vieram os áudios revelados pela Veja e reproduzidos pela Globo e pela imprensa desacreditada no QG do Palácio do Planalto. Quem estava mentindo era o 0-3. E o Presidente também. O Zero-Três continua dando as cartas. O ministro, antes um anônimo, foi demitido formalmente pelo pai, atendendo os ditames do filho encrenqueiro que não foi eleito para nada.
O DEM aproveitou a oportunidade e tirou a fantasia. Desnudando-se PFL, mandou logo o recado: encham de tinta a caneta do Lorenzoni (confessou ter recebido um por fora de 100 mil) para que ele comece a distribuição de cargos nos estados. E aí, deixa com nós (eles) a aprovação da reforma da previdência. É fisiologismo ou nada.
Recado dado, recado recebido. Porque é dando que se recebe.
Ah, um lembrete. O ministro Lorenzoni nem tem muito com que se preocupar. O colega da Justiça, Sérgio Moro, já deixou bem claro –e de viva voz- caixa dois não é um crime tão grave quanto corrupção, como achava e pregava o então juiz Sérgio Moro.
Pois é: a fala de sua excelência deixa claro que uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa.
Ou será que na prática a teoria é outra?
Ou... Ou...

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