Antônio Melo: Em nome de Deus


Antônio Melo, Jornalista - No dia 4 de maior de 2017, a Polícia Federal Argentina retirou do Instituto Povolo, em Mendoza, presa, algemada e protegida por um colete à prova de balas, Kosaka Kumiko, cidadã japonesa, mas residindo naquele país desde 2007. Na mesma ocasião também foram presos os cidadãos Nicolás Corradi, de 82 anos, e Horacio Corbacho, de 56 por estupro e outros tipos de abuso sexual contra menores surdos ali abrigados. O fato fica ainda mais grave quando se sabe que Kumiko é freira da Congregação de Nossa Señora del Huerto e Corradi e Corbacho são padres católicos e que a irmãzinha de caridade funcionava como verdadeira cafetina, levando as crianças mais vulneráveis para serem abusadas pelos dois sacerdotes.
O padre Corradi foi mandado da Itália para a Argentina nos anos 1960, numa tentativa da Diocese de lá de protegê-lo das dezenas de denúncias de estupro contra, praticadas por ele, contra crianças no Instituto Antonio Provolo, de Verona, que ele dirigia. Indiferente ao acontecido, a igreja do nosso vizinho colocou padre Corradi para gerir instituto semelhante, que também albergava crianças pobres e surdas. E aconteceu o que até o mais ingênuo dos cristãos podia prever.
A menina Damares Alves, com 6 anos na época, conta para os jornalistas que foi abusada sexualmente por dois religiosos. “Da primeira vez, foi um missionário da igreja evangélica” que ela frequentava, em Aracaju. “Foram várias vezes em um período de dois anos”. Relata ainda que o segundo pastor evangélico que abusou dela “não foi às vias de fato, mas passava a mão no meu corpo, me beijava na boca, me colocava no colo. Uma vez ejaculou no meu rosto”. O relato pormenorizado foi feito esta semana por ela mesma, a futura ministra do Meio Ambiente do governo Jair Bolsonaro.
João de Deus, ou João Teixeira de Farias, está preso, acusado de abusar de mais de 300 mulheres, quase todas adolescentes, na casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia, Goiás. Ali ele operava milagres com a mesma facilidade com que punha suas genitais para fora da calça. O santo milagreiro é acusado até por uma das suas filhas de ter abusado sexualmente dela por vários anos.
Quem se der ao trabalho de pesquisar, vai encontra centenas de casos como esses, envolvendo sacerdotes, freiras, pastores, médiuns –autoridades
de qualquer religião que se apresentam como legítimos representantes de Deus na terra. Diariamente alguns pastores fazem milagres em rede nacional de televisão, expulsam espíritos que só eles vêm e achacam o dinheiro dos crentes; alguns padres celebram missa e dão comunhão para, depois, se dirigirem a saunas onde participam de orgias. Para checar, basta ir ao Google e posar lá: “escândalos sexuais envolvendo religiosos”.
O objetivo deste artigo é alertar para o fato da fé nos ter transformado em cúmplices de crimes tão perversos. Serve também para indagar o que fazem ou fizeram as autoridades das igrejas para livrar a sociedade dos abusadores que agem em nome de Deus? Até quando, iludidos na nossa boa fé, vamos conviver com isso?
Até quando?


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