Jornalista
Mataram a festa da democracia. É assim que era conhecida a campanha eleitoral. Mas este ano, a pretexto de que os custos eram muito elevados, resolveram, deputados e senadores, com aquiescência da justiça eleitoral, cometer esse assassinato.
“Ainda não sei em quem votar, estou esperando pelo horário de TV”. Essa é a resposta mais colhida em pesquisas qualitativas entre indecisos quando se tenta descobrir as razões da dúvida do eleitor. Agora ele tem tudo para continuar mais indeciso ainda.
É que a tal minirreforma que manteve o excessivo número de partidos, deixou o voto igualzinho ao que era, não mexeu no principal. Mas investiu com força contra o direito do eleitor a uma campanha política aberta, sem restrições que o impeçam de fazer sua melhor escolha.
Para que se tenha uma ideia do que está acontecendo, basta dizer que a campanha para presidente e demais cargos em disputa, na tv, foi reduzida para 35 dias e o tempo que os presidenciáveis –quase duas dezenas- vão dispor para sua propaganda será de apenas nove minutos. Ou seja, algo assim como menos de 30 segundos, em média, para cada candidato, três vezes por semana.
Nas inserções que são exibidas ao longo da programação, o atentado foi maior. Serão 70 por dia. Mas espera aí: esse número terá que ser dividido entre os candidatos a presidente, a senador (2 por partido ou coligação), deputados federais e estaduais, respeitando-se a proporcionalidade com as respectivas bancadas na Câmara Federal.
Isso não é uma festa, é o enterro da eleição.
Sem falar no ridículo de uma legislação que obriga procuradores e juízes a comprar uma fita métrica para medir o tamanho dos adesivos, dos cartazes. Também já estão sendo comprados aparelhinhos para medir o número de decibéis que cada carro de som está irradiando.
Ridículo mesmo.
A campanha surgiu para que os partidos, pelos seus candidatos, explicitem suas ideias, combatam as do adversário, defendam-se das acusações. E isso ao invés de restrições, deveria ter regras que tornassem o acesso à propaganda política cada vez mais amplo. Propaganda refere-se ao ato de propagar e não de limitar, de restringir.
Pelo menos alguns passos foram dados pela justiça no que se refere à propaganda nas redes sociais e nas criticas que não estarão mais engessadas na proibição de montagens e trucagens.
Mas, infelizmente, é muito pouco para o tamanho do estrago que essas limitações fazem à democracia.