Lula diz esperar ser julgado pelo que está 'nos autos', e não 'por convicções'


Ex-presidente participou de ato em sua defesa promovido nesta terça-feira em Porto Alegre

POR SÉRGIO ROXO, O Globo

Lula participa de ato junto com Dilma em Porto Alegre - Domingos Peixoto / Agência O Globo


PORTO ALEGRE — Na véspera de seu julgamento pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta terça-feira, em Porto Alegre, acreditar que os desembargadores o julgarão pelos autos do processo e não por suas convicções políticas.


Em 35 minutos de discurso, o petista, numa fala típica de candidato, atacou o governo do presidente Michel Temer e chegou a dizer que "não existe nenhum magistrado no país mais honesto do que ele"Lula também reconheceu que o PT cometeu "erros", mas, segundo ele, os erros do partido foram menores do que os dos adversários. O petista anunciou que em fevereiro fará uma caravana pelo estado, com início em São Borja, cidade natal de Getúlio Vargas.

- Eu não vou falar do meu processo. Não vou falar da Justiça. Primeiro que eu tenho advogados competentes que já provaram a minha inocência. Segundo, porque eu acredito que aqueles que vão votar deverão se ater aos autos do processo e não à convicções política de cada um. Terceiro porque eu tenho vocês - discursou aos simpatizantes do PT.


O ato foi realizado na Esquina Democrática, tradicional ponto de manifestações políticas da capital gaúcha. Lula disse ter ido ao local para falar do Brasil.

Ele adotou novamente o discurso de que sabe cuidar do povo.

- Se tem alguém que sabe cuidar do Brasil, que sabe cuidar do povo somos nós. Fizemos tudo? Não. Erramos? Erramos, mas erramos porque somos seres humanos.

Depois de atacar o governo Temer, no final, Lula voltou a abordar questões judiciais.

- Duvido que neste país tenha um magistrado mais honesto do que eu.

O ex-presidente repetiu novamente que dorme com a "consciência tranquila".

- A tranquilidade daqueles que não cometeram crime.

E garantiu que o resultado o julgamento não mudará a sua rotina.

- Só uma coisa vai me tirar de continuar fazer o que estou fazendo é o dia que eu morrer. Qualquer que seja o resultado, eu continuarei lutando para que as pessoas neste país tenham respeito e dignidade.

Lula ainda disse que, em um momento no passado, o PT ficou com medo e os adversários se aproveitaram.

- Uma vez fiquei com nojo de ver bandido falar mal do PT. De ver pessoas que eram chamadas de quadrilha falarem mal do PT. Pode ter um partido político igual, melhor não tem. Tem gente que comete erros tem. Mas os erros do PT perto do erro deles não são nada.

Ao lado de Manuela d´Ávila, pré-candidata do PCdoB a presidente, Lula pregou união dos projetos de esquerda na eleição.

- Não temos o direito de permitir que a direita, que não tem candidato, que aceita qualquer coisa mesmo eu e quando eles aceitam qualquer coisa menos o Lula é que eu penso: eu sou bom mesmo. Se fosse eu tranqueira que eles falam, tranqueira por tranqueira eles arrumaram o Temer.

O petista também esnobou as acusações de que assusta os mercados:

- Quero dizer para vocês que eu não preciso do mercado. Eu preciso de empresas produtivas.

A ex-presidente Dilma Rousseff também discursou no evento e defendeu a inocência de Lula, que chegou a Porto Alegre no final da tarde e retornou para São Paulo logo após o ato.

Antes do discurso do ex-presidente, o ato foi marcado por ataques ao TRF-4 e ao juiz Sergio Moro, responsável pela condenação do líder petista em primeira instância. João Pedro Stedile, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), disse que Moro "não passa de um puxa-saco dos capitalistas americanos".

- O Tribunal Regional Federal já perdeu. São eles que estão no banco dos réus.

Stédile ainda afirmou que a Frente Brasil Popular, que reúne o MST, a CUT e outras entidades de esquerda, Impedirá a prisão de Lula.

- Os militantes da Frente Brasil Popular e dos partidos não permitirão que Lula vá preso seja qual vai ser o resultado do julgamento. Lula, não desanime, antes de prender você vão ter que prender todos nós.

Mesmo com poucas expectativas de que o ex-presidente seja absolvido, o PT vai fazer um grande ato político na quinta-feira que deve servir como uma espécie de lançamento da campanha do petista à Presidência. O partido pretende intensificar a agenda eleitoral, como parte da estratégia de tentar dar ares de normalidade à candidatura de Lula, mesmo com um revés na Justiça.

Ao longo da quinta-feira, o partido vai reunir, em São Paulo, sua executiva nacional e suas principais lideranças. Além do próprio Lula, são esperados no evento os cinco governadores petistas, deputados e senadores. O nome de Lula vem sendo tratado pelo PT como presidenciável desde o ano passado, quando o ex-presidente foi condenado a nove anos e meio de prisão pelo juiz Sergio Moro.

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