Jornalista
O teodolito é fundamental para os projetos de abertura de túneis ou minas, barragens, pontes, instalação de máquinas e no levantamento de campo.
Difícil era coloca-lo em nível, por exemplo no meio do mato ou na subida de uma serra. Uma geringonça enorme montada sobre um tripé, composta por uma luneta que apontava para um sujeito, instalado num ponto determinado com uma baliza cheia de marcações. Os dados ali colhidos sobre desníveis do solo, material a ser removido, profundidades a serem escavadas precisam ser altamente confiáveis. Ajustar aquela traquitana toda, uma tarefa complicadíssima.
Era. Agora o técnico chega no local, tira o teodolito e, sozinho, ele se ajusta ao solo, põe-se em nível, faz todo o trabalho com erro zero, realiza as medições de curvas do solo, calcula a profundidade das escavações, a quantidade de material a ser removido e, com base nisso tudo, informa a mão de obra a necessária. Um trabalho que demandaria um tempo enorme de engenheiros, técnicos, auxiliares durante vários e vários dias, mas que o teodolito, com a ajuda de um soft faz sozinho. E instantaneamente.
Agora junte a esse exemplo simples, aos carros que dispensam motorista, serviços de entregas por drones, softwares para cuidar de idosos, máquinas agrícolas que capinam, semeiam e colhem toda a produção sem necessidade de intervenção humana; automação bancaria, ônibus sem cobradores, postos de gasolina sem ninguém para abastecer o seu carro, câmeras de vigilância do trânsito em lugar de guardas; o exército americano utilizando veículos de controle remoto em substituição a parte considerável dos seus combatentes, cirurgias robotizadas, automóveis inteiramente fabricados por robôs (a Nissan japonesa usa exclusivamente máquinas para produzir seus carros), o Uber que combina automaticamente carros vazios com passageiros, sem intervenção humana, e que promete para logo utilizar veículos sem motoristas; câmeras de TV sem cinegrafistas para transmissões ao vivo e que entregam imagens sem trepidações e, até o caso do Los Angeles Times que noticiou um terremoto ocorrido na hora do fechamento do jornal, graças a um algoritmo que fez a reportagem sem nenhuma interferência de jornalistas (humanos).
E para onde foram os empregos de todas as pessoas que faziam esses serviços?
No discurso empresarial, as novas tecnologias fazem aumentar a produtividade e, ao mesmo tempo, reduzem o trabalho das pessoas. É uma leitura do problema.
A outra é que, traduzindo, o que eles querem dizer, esses avanços fazem aumentar a lucratividade das empresas diminuindo os empregos.
Muito se tem falado do crescimento de China e Índia. Na década de 90, o país mais populoso teve um crescimento médio de 11,2%. Já a Índia, segundo em população, alcançava 6,1%,. Pouco se diz, a bem da verdade, é que esse crescimento se deve a políticas defensivas da produção nacionais e do emprego, conforme detalhado em estudo de Jorge Mattoso, professor do Instituto de Economia da Unicamp e Secretário Municipal de Relações Internacionais de São Paulo.
Para Carl Frey, da Universidade de Oxford, em estudo sobre a ascensão do trabalho computadorizado, a automação pode ao longo de duas décadas, exterminar 47% dos empregos americanos. Corroborando o pensamento dele, vem a notícia de que a Foxconn, montadora chinesa de Iphones que emprega mais de um milhão de pessoas, pretende diminuir consideravelmente o número de trabalhadores com a automação de sua linha de produção.
Frey avançou mais nos seus estudos ao afirmar que esse desenvolvimento tecnológico será acelerado nos próximos anos. Ele descobriu, analisando uma amostra de 702 ocupações atuais, que quase a metade delas estão em risco de serem pulverizadas. Atividades que dependem de diagnósticos como certas especialidades médicas, dentistas, treinadores esportivos, atores, bombeiros e padres, correm quase nenhum risco.
Já datilógrafos, corretores, agentes imobiliários, vendedores, atendentes, pedreiros e auxiliares são atividades de altíssimo risco.
A pergunta continua: e para onde foram e irão todas as essas pessoas? O que elas farão agora para sobreviver?
A grande maioria subiu os morros, perdeu-se nas favelas, caminha pelos desvãos da prostituição, está sendo cooptada pelos PCCs, Comandos Vermelhos e Sindicatos do Crime. Alguns poucos ainda teimam em esmolar a caridade alheia, resistindo aos apelos do crime, porque na marginalidade social já foram atirados.
Ninguém pode ser contra o progresso. Mas o preço a ser pago por ele não pode ser tão alto que confirme o temor de que "com tanta automatização do trabalho não haja mais nada para as pessoas fazerem". Pelo menos é contra o que luta Robert Atkinson, presidente da Fundação Tecnologia da Informação e Inovação, sediada nos Estados Unidos.