| Alan Marques - 21.fev.2017/Folhapress | ||
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| O presidente da República, Michel Temer (PMDB) |
Melo Filho foi ouvido em Brasília por cerca de 45 minutos pelo ministro Herman Benjamin em meio ao processo de cassação da chapa Dilma Rousseff-Temer.
De acordo com apuração da Folha, Melo Filho reiterou o teor da sua delação premiada em que descreveu um jantar ocorrido no Palácio do Jaburu em maio 2014.
O vazamento do documento que continha a versão do ex-executivo aos procuradores da Lava Jato foi o que provocou Benjamin a convocar os depoimentos de delatores da empreiteira.
Segundo Melo Filho, no encontro, Temer, que na época ocupava o cargo de vice-presidente e pleiteava a reeleição, pediu apoio financeiro ao seu partido, mas não falou em valores.
No jantar estavam Temer (então vice-presidente da República), Marcelo Odebrecht, ex-presidente do grupo, e Eliseu Padilha, hoje ministro da Casa Civil.
Segundo a delação, naquele encontro ficou definido o repasse de R$ 10 milhões da empreiteira ao PMDB.
"Eu participei de um jantar no palácio do Jaburu juntamente com Marcelo Odebrecht, Michel Temer e Eliseu Padilha. Michel Temer solicitou, direta e pessoalmente para Marcelo, apoio financeiro para as Campanhas do PMDB no ano de 2014", diz trecho do documento de colaboração do ex-executivo.
Também em depoimento ao TSE, na última quarta (1º), Marcelo Odebrecht deu versão semelhante, afirmando que discutiu doação com Temer, mas sem mencionar valores.
A quantia teria sido discutida, segundo o herdeiro do grupo, somente com Padilha.
Alexandrino Alencar, ex-diretor da empresa, e Hilberto Mascarenhas, ex-funcionário do setor de operações estruturadas, área de pagamentos ilícitos do grupo, também foram ouvidos.
O depoimento mais longo foi o de Mascarenhas, que durou duas horas e meia. Alencar e Melo Filho entraram pela garagem, no subsolo, para não serem vistos pelos jornalistas. Mascarenhas, o primeiro a chegar, seguiu pela portaria principal e usou uma pasta na tentativa de esconder o rosto. "Vai ser tudo bem", limitou-se a dizer sobre as expectativas para a oitiva.
Os advogados de Temer não foram localizados pela reportagem. Em nota sobre o assunto, o presidente afirmou que nunca pediu doações por meio de caixa dois.
TENSÃO
O terceiro dia de depoimentos no TSE foi marcado por tensão em relação aos vazamentos da semana passada, nas audiências anteriores. O ministro Herman Benjamin falou explicitamente sobre sua irritação com a quantidade de informações que foram veiculadas na imprensa e alertou para que não isso não se repetisse.
Um dos depoentes, Alexandrino Alencar também abordou o tema e reclamou da exposição dos delatores.
Diferentemente das outras oitivas, os ex-executivos da Odebrecht e seus advogados tiveram que deixar os celulares desligados durante todo o período de audiência.
Eles também não puderam ter contato uns com os outros. Inicialmente, vários defensores que acompanhariam seus clientes foram impedidos de entrar para ouvi-los. Posteriormente, no entanto, Herman Benjamin acabou liberando a entrada.
As audiências começaram 17h30 e terminaram por volta de 22h30.
