Antônio Melo
jornalista
Hoje,
de fato, há três poderes no Brasil: a justiça (principalmente o midiático juiz Sérgio
Moro), o Ministério Público e a Polícia Federal. O resto é figuração,
perfumaria. Duvida? Então, vamos conferir:
O juiz Moro mandou conduzir coercitivamente o blogueiro
Eduardo Guimarães, responsável pelo Blog da Cidadania, por ter vazado, uma
semana antes, que Lula seria conduzido, em fevereiro do ano passado, por
métodos coercitivos para prestar depoimento por ordem do próprio Moro. Segundo
Guimarães e seu advogado, o juiz da Lava Jato quer porque quer que o jornalista
diga quem foi a sua fonte.
Segundo o artigo quinto, parágrafo XIV da Constituição do
Brasil "é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo
da fonte, quando necessário ao exercício profissional".
Mas para o todo poderoso e midiático juiz Moro, Guimarães
não é jornalista, porque não tem diploma. Onisciente, o meritíssimo não leva em
conta que o Supremo Tribunal já decidiu que para ser jornalista é dispensado
diploma. Portanto, Guimarães, tendo um blog há 12 anos, é sim jornalista. E com
ele estão todas as entidades de classe que já manifestaram o seu repúdio e
indignação pelo arbítrio de Moro. Além da condução coercitiva, o famoso juiz
ainda quebrou o sigilo telefônico e apreendeu celulares e computadores do
blogueiro-jornalista numa violação antecipada do sigilo sagrado preconizado na
Constituição.
Aliás essa preocupação do juiz com vazamentos de informações
que estão sob sua guarda e proteção, não fosse seletiva e discriminatória,
seria salutar. Muito salutar, desde que dentro da lei. Por exemplo, o nobre
magistrado poderia mandar esclarecer quem vazou o diálogo gravado, já sem
autorização da justiça, entre a presidente Dilma e o ex-presidente Lula. Ou
mesmo, quem instalou ou mandou instalar escuta ilegal na cela do doleiro
Alberto Yousef na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba? Ou ainda, quem
são os responsáveis por todos os vazamentos que os telejornais, principalmente
os da Globo, nos brindam todos os dias com depoimentos, delações, acareações
protegidos por desmoralizados segredos de justiça? Seriam os procuradores, como
insinua e cobra o ministro Gilmar Mendes? A Polícia Federal? Algum juiz
auxiliar? Advogados?
O pau que bate em Francisco tem que ser o mesmo que bate em
Chico! Ou em Curitiba não bate?
Os abusos dos "três poderes" chegou a tal ponto
tal que até a Veja cedeu generoso espaço a um dos seus mais renomados e
combativos porta-vozes do direitismo, Reinaldo Azevedo, cravar que o Ministério
Público, a Polícia Federal, o Judiciário (leia-se Moro), são uns
"porras-loucas". E foi bem mais longe, na análise do triunvirato:
"A única força no
Brasil que hoje promove a corrupção é a Lava Jato, dadas as penas ridículas que
aplica aos delatores. Notórios bandidos estão sendo, de fato, literalmente
premiados. Os abusos sem contenção nem punição da Lava Jato conduzem a outros
tantos.
"Não
senhores! O espetáculo grotesco da Polícia Federal na sexta não surgiu do nada.
Sob o pretexto de combater bandidos, só pode fazer aquela patuscada quem aposta
na impunidade. A mesma impunidade que protege os procuradores-vazadores. Todos
esses entes, incluindo setores do Judiciário, estão convencidos de que o país
não precisa de políticos e da política.
"Querem
saber? Entreguemos o Brasil aos porras-loucas do MPF, da PF e do Judiciário, e,
em dez anos, seremos um Haiti de dimensões continentais".
Inacreditável, mas até a Veja está vendo.
Enquanto isso, atacada, xingada e agredida -além de
engavetada, tenta caminhar pelos escaninhos do Congresso um projeto de lei
contra o abuso de autoridade. Para coibir exageros como os do meritíssimo e da
operação da PF que avacalhou com a Vigilância Sanitária Brasileira. Para que se
tenha uma ideia do quanto isso já está nos custando, basta dizer que
exportávamos 63 milhões de dólares de carne e derivados por dia. Esse número caiu para 74 mil dólares na terça
feira. E Egito e Arábia Saudita ainda nem tinham anunciado a proibição de
importar a carne brasileira. Um desastre que só a impunidade pode permitir!
Como alguém pode ser contra a punição ao abuso de autoridade?
Abuso é abuso. E por ser abuso é inaceitável. Seja na Igreja ou no inferno. De
político ou de polícia. Estadual ou federal. De procurador ou guarda de
trânsito. De juiz da Lava Jato ou de futebol. O que precisa é que esse projeto
seja comunicado e explicado à sociedade, tenha corrigidos os seus exageros. Tornou-se
imprescindível. Por ele, o cidadão volta a ser protagonista no nosso país.
Aliás, comunico: quero a minha cidadania de volta. Nessas
confusões todas ela foi sequestrada coercitivamente. Alguma operação Complexo de Cachorro Viralata está
fazendo que nos reste apenas exaltar nossas vergonhas. E nada mais. Repito: exijo
minha cidadania de volta! Já!