Edgar Moreno: crônica de momento

Por Edgar Moreno
COSTA FILHO, João Batista da que também representa o heterônimo Edgar Moreno.



Daqui posso ver um astro luminoso. Mas não vou pensar em suas dimensões de tamanho, distância ou diâmetro. Isto não é uma aula de Ciências. Vou resumir apenas dizendo que vejo a lua, redonda, luminosa e linda a subir pouco a pouco... Não quero perder a inspiração desse momento simples, o qual muita gente possa estar vendo, não do mesmo ângulo, mas só eu possa conseguir senti-lo. Talvez isso se chame “vazio”, estresse, poesia ou alguma coisa que Freud não explique; frescura é que não é. Quem sabe venha a ser minha próxima crônica. Falando nisso, a minha última não pude ainda ler, nem tu, leitor. Terminou setembro e a edição jornalística não veio do prelo. Mas há de sair. Há de ter saído.
Olho a lua outra vez, continuando a subir. Quisera eu também para ver lá de cima esse pequeno mundo, que daqui me é tão grande, tão cheio, tão misterioso... Às vezes engraçado, outras, podre. Mas não quero pensar em coisa assim. Melhor arribar a vista. Uma mesa então se rodeia por cinco ocupantes, dentre os quais uma mulher, nem bonita, nem feia; ela mesma. Conversam e parecem estar se realizando.
Interessante, cada pessoa, um próprio mundo com todas as suas implicações. E essas árvores que já as tinha observado bem antes de tudo isso. São quatro ao todo tentando refrescar os bares do escaldante sol desse lugar e seus bebedores. São apenas árvores. Mas o que me chama atenção é que a mais distante é bem maior e frondosa do que as três que se juntam e se apertam sem poder abrir livremente os braços. Com as pessoas a lei da socialização parece funcionar contrariamente. Para o homem dizem que a união faz a força. Mas há homens-árvore que são mais felizes e produtivos com a liberdade do isolamento, ou pelo menos da concentração. Que o digam os poetas, contabilistas e outros ocupados que não quero me obrigar a alistar. E a lua? Está lá, redonda, sempre andando, imperceptivelmente. Eu também não gosto de parar. Não convém. A vida exige e eu obedeço, às vezes por prazer.
Ergo a vista. Algumas estrelas já surgiram há tempo no vão do céu escurecido, onde a luz incandescente do poste me permite enxergar. Mais à direita surge-me outra lua, bem mais redonda, nítida e próxima entre os galhos do bambuzeiro. E não adianta querer misteriar o fato. É tão-somente a placa de outro bar. E esta não é a primeira vez que acho essa aparência, creio outros transeuntes, ébrios ou poetas já assim a perceberam. Já é noite feita. Tenho trabalho logo mais, mas ainda me vem à lembrança o Fran, que agora há pouco me teve a dizer-lhe da vida. É tão grande de corpo quanto de alma, mas a sorte ou a astúcia não lhe têm sido do mesmo tamanho. Desempregou-se recentemente. Não suportou as exigências nada justas do patrão. Trabalho sim senhor, mas com direito a descanso semanal também. É por fim, mais um nas ruas da cidade a gritar por um trabalho digno. É mais um que volta ao rio Mearim para tirar da areia lavada ao sustento cotidiano. O papel se finda, a lua sobe e eu tenho que ir.
− Alexandre, a conta, por favor!

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