Antônio Melo: O media training e o celular. Aí tem coisa.

Antônio Melo, jornalista - Não fosse Sérgio Moro aquele cidadão de preto ali sentado - pescoço grosso, cabelo curto, barba bem escanhoada, respostas repetitivas e foçadas no objetivo de pôr em dúvida a veracidade do que foi descoberto contra ele e, mais ainda, enquadrar o ato como próprio de uma organização criminosa - não teria a menor dúvida em afirmar: fez um excelente media training.
Mas era Sérgio Moro quem estava sentado ali na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Ninguém menos do que o super-juiz, o super-herói, o super-homem cuja a verdade se impõe até ante a do Mito, desmentindo-a quando revelou que na barganha para o ministério da justiça entrara uma indicação-quase-nomeação para o Supremo Tribunal Federal. Mentira do presidente, nunca houve nada disso, garantiu Moro.

Aliás, o nosso paladino da justiça, sempre primou por sua independência, imparcialidade.
Tanto é que faltando seis dias para o primeiro turno da eleição presidencial de 2018 o “caçador de corruptos” tornou pública a delação de Palloci, incriminando Fernando Haddad, candidato a presidente no lugar de Lula, então favorito, mas que fora mandado para a cadeia por Moro. Não se diga que o gesto do independente e imparcial magistrado ao divulgar os termos da delação, rejeitada à época pelo STF, serviu para dar uma ajudinha ao seu futuro patrão ou abrir-lhe as portas do ministério. Isso seria corrupção. Alto lá!
No passado do juiz não há nada que deixe supor algo parecido, muito menos envolvimento partidário. Lembra quando as ruas estavam conflagradas pelas massas favoráveis e contra a cassação do mandato de Dilma? Acho que você se lembra, sim. O processo contra Dilma foi aberto em fevereiro de 2015. Nas ruas as passeatas estavam pau-a-pau. A FIESP, montou um pato gigante em frente à sua piramidal sede na avenida Paulista, não sei se em alusão aos que aderiram ao impeachment ou ao povo que contribui para as atividades industriais. Pergunta a Paulo Skaf que deve saber.
Pois bem. Foi exatamente aí que o imparcial Sérgio Moro, em março daquele mesmo ano, liberou para o Jornal Nacional a gravação de uma conversa entre a presidente da república - em pleno exercício do cargo - com o ex-presidente Lula, gozando então de todos os seus direitos políticos, portanto apto para assumir qualquer função pública. Na conversa, Lula era sondado para a Casa Civil de Dilma. O vazamento da conversa autorizado pelo magistrado impediu que fosse.
E Moro estava certo. Ele sabia que no dia 12 de julho de 2017 -1 ano e quatro meses à frente - iria condenar o ex-presidente em primeira instância. Faltavam ainda as provas, mas isso era só um detalhe. Havia pedalinhos, cuecas de Lula, roupas íntimas da primeira dama, registros no controles dos portões de entrada do condomínio do famoso triplex de menos de 300 metros quadrados. Uma coisa tem-se que reconhecer mais: o homem é vidente, enxerga longe.
E como ousa um insignificante jornalista, Glen Greenwald ganhador do Nobel da imprensa mundial - o Prêmio Pulitzer de Jornalismo, do Prêmio Esso de Reportagem e do Oscar de Melhor Documentário em 2014, em Cannes vir inventar aquelas coisas sobre o nosso super-herói? Realmente trata-se de um ousado. Um desqualificado, um profissional de quinta categoria, como bem quer o ex-juiz e acredita sua legião de fanáticos seguidores, admiradores imutáveis, democratas de mesa de bar.
Assisti hipnotizado as mais de dez horas de depoimento de Moro. Vibrei quando ele disse -e eu, claro, acreditei - que não foi treinado, não fez media training. Foi demais aquilo. Claro que não fez.
Só uma coisinha me incomodou. Aquela história de ele entregar o celular para a Polícia Federal. Acho que os outros procuradores que são citados nas falsas conversas por essa “organização criminosa” deveriam ter feito o mesmo. Todos eles. Aí ficaria provado que era tudo mentira, uma armação desse jornalistazinho de quinta categoria, que não existe nada daquilo que foi dito. A PF já devia ter feito isso há muito tempo. Não é isso que faz com todo mundo que é investigado na “Operação Lava Jato”?
Mas nesta quinta-feira veio a história de que os procuradores também saíram do provedor e trocaram os seus celulares. Estranho, né não? É a coisa parece até mais estranha quando os procuradores contam que fizeram isso por orientação da PF.
Que coisa estranha. Não fosse Moro nessa, eu até ficaria desconfiado.
Dá uma vontade danada de dizer: aí tem coisa.

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